Aras e Altar Romano de Tresminas

(Altar Romano de Tresminas no Museu Municipal Padre José Rafael Rodrigues) 

Em Tresminas, Vila Pouco de Aguiar (Vila Real) foi encontrado um altar romano, com um orifício para oferendas, e aras dedicadas a divindades indígenas e a  divindades romanas. 

(Altar Romano de Tresminas no Museu Municipal Padre José Rafael Rodrigues) 

O Altar Romano
"Altar romano com base, fuste e capitel.
O voto ou inscrição está gravado no fuste, como era frequente, embora pudesse estender-se ao capitel. Na parte superior do capitel, existe um pequeno orifício, denominado foculus, no qual era queimado o fogo sagrado; na parte lateral do fuste, dois orifícios denunciam a existência de uma patera, sobre a qual se colocavam oferendas à divindade" - Museu Municipal Padre José Rafael Rodrigues


Aos deuses, eram comum, oferecer-se vinho, leite, mel ou então os primeiros frutos da colheita.

Rituais e Devoção Religiosa
"A Religião estava presente em todas as dimensões da vida pública e privada dos Romanos. Todos os lugares e edifícios tinham a sua divindade protetora. Muitas das decisões e atividades eram precedidas de orações. Dirigiam-se as preces às divindades protetoras pedindo os seus favores. Mas tambem se honravam familiares e amigos defuntos com orações. Para tal poderiam mandar lavrar na pedra tanto a dedicatória a um deus, como o epitáfio de um ente querido, ficando assim estes gestos gravados para a posterioridade.
Era sobre essas aras ("altares em pedra"), az quais para além do jome do deus tinham gravado o nome de quem prestava o culto, que as chamadas libações tinham lugar - ou seja, as orações eram acompanhadas pela queima de incenso ou de ervas aromáticas, e ao divino oferecia-se vinho, leite, mel ou então os primeiros frutos da colheita. 
Estes rituais efectuavam-se quer no interior das próprias residências, no altar (larário) familiar, onde os deuses lares eram também cultuados, quer em templos construídos em recintos públicos. Mas estas práticas de devoção também podiam decorrer ao ar livre, em sítios (como as nascentes de água, em pontos proeminentes de uma serra ou junto a rios) muito associados ao sagrado e à dimensão simbólica do mundo de então. E eram consagrados votos tanto aos deuses romanos, como às divindades indígenas (de origem pré-romana), numa coexistência de cultos que constitui uma das marcas desse tempo. 
Para se manter viva a memória de um defunto, e assegurar a sua imortalidade, também nos espaços funerários se efetuavam oferendas e libações. Aos deuses Manes (Dis Manibus - os deuses dos mortos) dirigiam-se as preces de quem visitava ou percorria esses lugares de enterramento. " - Centro Interpretativo de Tresminas


Ara Votiva dedicada a Júpiter
(encontrada na aldeia Ribeirinha/Tresminas - Vila Real) 

I(ou) O(ptimo) M(aximo)
MIL(ites) C(o) H(ortis) 
I GALLI
CAE EQ(uitatae) C(iuium) 
R(omanorum) V(otum) S(oluerunt)
L(ibentes) M(erito) 

"A Júpiter Óptimo Máximo. Os militares do Cohors I Gallica equitata ciuium Romanorum cumpriram o voto de livre vontade e com razão." 

A peça que se encontra no Centro Interpretativo de Tresminas é uma réplica, a original encontra-se no Museu da Sociedade Martins Sarmento em Guimarães. 


Ara dedicada a Júpiter 
(encontrada na aldeia Ribeirinha/Tresminas - Vila Real) 

Q(uintus) ANNIUS
MODESTU(S) 
M(iles) L(egionis) VII G(emina) P(iae) 
F(elicis) A(ram) I(oui) O(ptimo) M(aximo) V(ouit) 

"Quinto Ânio Modesto, soldado da legião VII Gemina Pia Felix, colocou esta ara a Júpiter Óptimo Máximo." 

A peça que se encontra no Centro Interpretativo de Tresminas é uma réplica, a original encontra-se no Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real. 


Ara dedicada a Nabia 
(encontrada na aldeia Covas/Tresminas - Vila Real) 

NABIAE
V(otum) S(olvit) L(ibens) A(nimo) 
(R)VFINV(S)
(CA) VRVNIVS

"A Nabia, cumpriu o voto de bom grado, Rufinus (?) Caurunius (?)." 

A peça que se encontra no Centro Interpretativo de Tresminas é uma réplica, a original encontra-se no Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real.

Os Deuses Romanos
"Em Tresminas, assim como em Roma, seria Júpiter o deus com mais devotos ou que despertadia um maior fervor religioso. As preces e as oferendas ser-lhe-iam dirigidas por todos, a começar pelos soldados romanos que aqui cumpriram parte do seu serviço militar. 
O novo sistema de crenças, centrado também aqui na devoção a Júpiter (enquanto divindade suprema e oficial dos novos tempos), ter-se-á progressivamente generalizado às populações indígenas, funcionando não so como mecanismo de regulação social, mas também como dispositivo ideológico legitimador da nova ordem sociopolítica instituída. Consagrar os votos a Júpiter seria uma manifestação de fidelidade às instituições romanas por parte de indivíduos e comunidades. Para as populações nativas partilhar esta fé com os soldados constituira igualmente um sinal de integração ou de uma forma de identificação com os novos valores culturais. 
Neste território mineiro talvez tivesse sido consagrado a Júpiter um pequeno templum. Não se identificaram ainda os restos desse espaço religioso, mas as inscrições gravadas na pedra que se conhecem dedicadas por dois corpos militares aqui estacionados (legio VII Gemina e Cohors I Gallica) e também por um militar a título particular, parecem denúncia-lo." - Centro Interpretativo de Tresminas

Os Deuses Indígenas
"Em Tresminas conhecem-se também dedicatórias a divindades indígenas, de origem pré-romana: uma à deusa Nabia e outra, eventualmente, Munidis (a primeira geralmente relacionada com os vales e a segunda talvez com os relevos montanhosos). A população indígena ser-lhe-ia particularmente devota mantendo por esta via um apego à tradição e ao mundo sagrado dos seus antepassados. 
Esta religiosidade pré-romana foi não apenas autorizada pelos romanos como se manteve perfeitamente ativa, ainda que se tivessem romanizado as anteriores práticas rituais: construíram-se templos, gravaram-se inscrições e adoptaram-se formulários latinos, para além dessas divindades indígenas, pela primeira vez, passarae a mostrar-se sob a forma de imagem ou de presença figurada que a mão podia tocar e a imaginação acolher. 
O anterior sistema de crenças manter-se-ia assim plenamente atuante entre as comunidades nativas. Muitos continuariam, a este nível, totalmente comprometidos com a memória. Inclusivamente, ritos e superstições herdadas, poderiam continuar a marcar o quotidiano destas gentes: tanto na convivência privada das suas habitações ou no espaço público dos povoados, como duranto o trabalho, nas minas ou nos campos." - Centro Interpretativo de Tresminas 

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