(Livro) Religiões da Lusitânia Vol.3 de J. Leite de Vasconcelos


    O livro "Religiões da Lusitânia Vol.3" do autor J. Leite de Vasconcelos* foi originalmente publicado em 1913, a minha edição é de 1989 pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda.
    O livro é o livro base de todos os historiadores sobre as antigas religiões no nosso pais e os Deuses e Deusas que nele foram cultuados/as. É rico em ilustrações e faz parte de uma coleção de 3 volumes, todos escritos pelo autor J. Leite de Vasconcelos. Podem ver sobre o volume 1 aqui e sobre o volume 2 aqui.
    Este volume é dedicado às religiões Proto Históricas (parte final) e as religiões dos Tempos Históricos (Lusitano-Romanas e na época dos Bárbaros), onde temos sobre o culto dos mortos (como as campas insculpturadas em Beja, sepulturas do Sul de Portugal, a Porca de Murça, os Berrões das Cabanas de Moncorvo e estatuas sepulcrais de guerreiros) e vários ato religiosos (como os sacrifícios, os santuários e outros locais sagrados, algumas divindades sem idolos, emblemas gravados nas pedras) nos tempos proto-históricos, temos sobre a romanização da Lusitânia, as divindades que foram romanizadas (tais como o Endovélico, as Deusas Mãe, Nabia, Arentia e Arentius), divindades com origem romana que foram cultuadas (como por exemplo: Apollo, Diana, Tellus, Neptuno, Esculapio, Marte, Minerva, Venus, , os Lares, Vulcano, Pax, Fortuna e as Fadas) e divindades de origem asiática e africana (como Cybele, Mytras, Isis, Serápis e o Sol e a Lua como divindades). 
    De seguida, temos o culto dos mortos nos tempos romanos e e vários locais (santuários, tais como Templo de Mérida, recinto Sagrado de Panóias ou o Friso esculpturado de Frende) ou objetos (como amuletos, aras, moisaicos, cabeças bifrontes, placas de mármore, estatuetas e estelas) encontrados que retratam os cultos realizados neste período histórico no nosso pais. 
    Por fim, temos as religiões durante o período suevo e o período visigótico, onde temos sobre as suas crenças religiosas, o rito sepulcral do século VI, o começo do catolicismo, os Concílios da Lusitânia no século VII, as sociedades cristãs, os cemitérios cristãos e emblemas religiosos e mágicos (tais como lucernas, cerâmicas, anéis e símbolos em tijolos).
    Como podemos ver, neste volume tem uma parte que deveria ter sido incluída no volume dois mas: "Ao contrário do que aconteceu com o volume I das Religiões da Lusitânia, que abarca a parte I da obra, o volume II não abrange toda a parte II do plano traçado inicialmente por José Leite de Vasconcelos. Limitações impostas por falta de tempo e disponibilidade obrigaram-no a passar o capítulo XVIII e a secção II dessa II parte para o volume III..." - José Manuel Garcia
    Apesar de ser publicado por uma editora portuguesa, e devido ao facto de ser um livro antigo e raro, o livro neste momento encontra-se esgotado pelo que podem  tentar comprar em segunda mão na Trade Stories aqui ou Olx/ Custo Justo

*"Oriundo de uma família liberal de uma aldeia beirã, o centro dos seus interesses foi, desde sempre, o conhecimento da alma popular. Formado em Ciências Naturais e Medicina na Universidade do Porto, depois de breve período em que foi subdelegado de saúde no Cadaval, abandonou por completo a medicina quando foi nomeado conservador da Biblioteca Nacional.
Influenciado pelo sentimentalismo da época, estreou-se literariamente, apenas com 20 anos, com o Poema da Alma, tendo já por essa altura publicado na Aurora do Cávado artigos sobre as suas investigações das tradições populares.
Em 1887 fundou a Revista Lusitana (que reunia a melhor coleção de trabalhos publicados na época sobre assuntos de etnologia e de filologia), e em 1893, sob proposta sua, foi criado o Museu Etnológico, do qual foi nomeado diretor, tendo fundado pouco depois a revista O Arqueólogo Português, que lhe servia de órgão de difusão cultural. Em 1901 doutorou-se em Letras na Universidade de Paris e, de regresso a Lisboa, foi-lhe atribuída a regência de um curso de Filologia Românica, ao mesmo tempo que prosseguia as suas investigações.
Conhecedor das últimas descobertas científicas do século em matéria de cultura popular, e tendo sido o primeiro entre nós a proclamar a importância do trabalho de campo e da observação direta, percorreu o País de ponta a ponta, recolhendo da boca do povo um material inesgotável, sob a forma de romances, anedotas, provérbios, adivinhas, cantigas, orações. Este material, que está na base da sua vastíssima produção (cerca de 1243 títulos), é acompanhado de comentários de um grande saber e reflexão.
Embora Leite de Vasconcelos prefira deixar os factos falar por si, é possível encontrar um corpo de doutrinação teórica suficientemente estruturado, em que o leitor atento consegue seguir um fio condutor. Apesar da aparente dispersão por matérias tão diversas como a filologia, a história, a geografia, a arqueologia, há uma linha que define e estrutura as suas investigações, e essa linha é de cunho predominantemente etnológico. Diz Orlando Ribeiro: «tudo ou quase tudo o que escreveu se integra dentro do plano de um vastíssimo corpus do povo português, desde as suas mais remotas origens até aos nossos dias, nas manifestações mais típicas da sua individualidade» (Vida e obras de José Leite de Vasconcelos, separata de Portucale, vol. XV). E acrescenta, no mesmo artigo, que não é apenas um critério científico, mas sobretudo o seu grande amor por Portugal e pela gente portuguesa, que leva Leite de Vasconcelos para o campo da história.
Daqui que a sua obra mais importante, Etnografia Portuguesa, cujo 1º. vol. saiu apenas em 1933, no dia em que o autor completava 75 anos, seja secundada por outra em que estuda as relações do território de Portugal com a antiga Lusitânia: Religiões da Lusitânia. Este seu constante amor pela alma portuguesa levava-o a ouvir com o mesmo encantamento as histórias do moleiro Elias e da Tia Miquelina como a conversar incansavelmente com quem dele se abeirasse, na botica de Campolide, diz ainda o mesmo depoimento de Orlando Ribeiro.
Leite de Vasconcelos, com os seus mestres evolucionistas, acreditava na unidade espiritual do Homem (foi dos primeiros a estudar a convergência das tradições populares em diversos países) e aceitava a ideia de que o povo tinha «em potência» as mesmas qualidades do «civilizado». O volume das suas investigações (ainda há muitos inéditos por publicar) e o rigoroso registo das observações fazem da obra de L. V. uma obra ainda hoje fundamental, apesar de algumas das suas interpretações terem sido, posteriormente, postas em causa.
Colaborou em numerosos jornais e revistas, tanto portugueses como estrangeiros, era presidente honorário da Associação dos Arqueólogos Portugueses e sócio da Academia das Ciências." (in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990)

 

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